Resinagem em Portugal: Um Foco de Esperana
O setor da Resinagem em Portugal, depois das fulgentes dcadas de 60, 70 e 80, e posterior declnio, parece voltar agora a despertar interesse para os profissionais do setor. A criao da primeira associao dedicada exclusivamente a esta fileira, a ResiPinus, exemplo disso mesmo. Porm, com a rea ardida nos ltimos anos em territrio luso, impossvel pensar em voltar a atingir os mesmos valores nos prximos anos. Mas tambm na preveno e proteo das florestas que esta atividade gera interesse. Portugal, que foi um dos lderes mundiais deste produto, tendo chegado a produzir 140.000 toneladas em 1984, contrastando com a modesta produtividade mais recente, de 6.000 tn em 2012, ou 4.500 tn em 2009. A resina formada por vrias substncias (cidos, lcool e leo) e da destilao da resina obtm-se dois produtos para a indstria de 1 transformao: a terebintina (ou aguarrs) e a colofnia (tambm conhecida por pez). Depois da matria-prima transformada, ela passa por uma outra indstria (a de 2 transformao), onde os produtos derivados tero como destino os mais diversos fins, desde a rea da medicina e indstria farmacutica at s borrachas, passando pela cosmtica e at mesmo a indstria alimentar (pastilhas elsticas). Em Portugal a resinagem feita no pinheiro-bravo e tambm no pinheiro-manso, sendo uma atividade regulamentada por lei. Atualmente, em Portugal, existem 6 fbricas de 1 transformao e o mesmo nmero de empresas na 2 transformao. Na rea do comrcio e extrao contam-se perto de 100 e, na atividade concreta da extrao da resina, os denominados resineiros, existem cerca de 500. Segundo Antnio Salgueiro, vice-presidente da ResiPinus, a produo total de resina em Portugal representa apenas 10% da necessidade de consumo do pas. Antnio Salgueiro tambm administrador da GIFF S.A., uma empresa de gesto integrada de fogos florestais, e foi por esta via que entrou na atividade da resinagem, devido ao potencial desta na preveno de incndios, que tanto tm afetado o nosso pas. Est na rea da engenharia florestal desde finais da dcada de 80, tendo entrado no setor da resinagem h trs. Por estar no setor por causa dos incndios, no se considera o agente tradicional do mesmo. Atravs da criao de emprego e da gesto dos espaos florestais, Antnio Salgueiro adianta que a resina pode e deve funcionar como um produto indireto que pague essa mesma gesto. AGROTEC: Porqu o aparecimento de uma associao apenas em 2014? Antnio Salgueiro: Teria feito todo o sentido ter aparecido muito antes, at porque a atividade da resinagem j foi muito mais importante do que aquilo que hoje em Portugal. O pico mximo de produo/extrao de resina em Portugal foi nos anos 80. Mais precisamente nos anos de 83, 84, e depois a atividade veio a cair. E caiu muito. Neste momento, h novamente um interesse e portanto aproveitar em parte este novo interesse que existe pela atividade da resinagem, para tentarmos que os novos operadores que apaream estejam enquadrados numa nova associao que os possa representar. AG: Portugal j foi, como at j referiu, um dos maiores produtores de resina. Diz-se que esta queda deveu-se entrada no mercado em fora de alguns pases com grande capacidade produtiva, como a China, que vieram tambm criar especulao e instabilidade no mercado. Foi este o factor originou a queda subsequente? AS: Foram vrios fatores. Um deles, como menciona, foi a forte concorrncia mundial de alguns pases, como a China, e a respetiva capacidade produtiva dos mesmos, mas eles no comearam a produzir resina nos anos 80, j a produziam antes. Um outro fator foi o facto de termos entrado para a Comunidade Europeia com o complexo de sermos um pas com muita atividade no setor primrio, os prprios operadores tinham algum complexo em relao a isso, e as pessoas abandonaram muito as atividades rurais. Essa uma das razes. A outra razo tambm a reduo do preo da resina nos mercados mundiais e, uma das razes muito fortes, deveu-se aos incndios florestais: tivemos muitos resineiros que pura e simplesmente faliram porque perderam tudo num nico incndio. O investimento na resina extremamente ingrato porque investe-se durante 6 ou 7 meses e realiza-se capital quando se vende a resina e muito do capital durante o perodo de maior risco de incndios est nos pinhais e, portanto, se o pinhal arder, todo o investimento que foi feito at esse dia desaparece. E ns tivemos incndios muito grandes nos anos 90 e sobretudo nos anos 2000. Isto foi sempre em crescendo e muitos dos resineiros perderam tudo o que tinham ganho muitas das vezes num nico incndio. AG: E investimentos de anos, muitas das vezes AS: Sim, porque a perspetiva do resineiro particular. No o tipo de operador que vai banca pedir dinheiro para financiar o seu projeto. O que vai fazendo : com o que consegue ganhar num ano, tenta no seguinte aumentar um pouco a rea de incidncia, e assim sucessivamente. Portanto, reinvestia o que ganhava mas sempre com o risco de poder perder tudo de repente, que foi o que aconteceu com um grande nmero deles. Ainda hoje uma das principais limitaes para o exerccio da atividade. Existem duas grandes limitaes (para alm, obviamente, de outras de menor influncia) na atividade da resinagem: uma delas so os incndios florestais, porque se pode perder tudo num incndio, e a falta de seguro da resina em caso de incndio florestal. Nos no queremos segurar rvores, pois elas no so dos resineiros, normalmente elas so alugadas num contrato de parceria com os proprietrios ou os representantes dos proprietrios, o objetivo segurar a resina: no possvel de momento no pas e um dos objetivos da associao, conseguir que as seguradoras se interessem pelo tema e que criem um seguro para este fim. AG: E v isso como algo exequvel no curtoprazo? Existe abertura por parte das entidades interessadas? AS: Sim, partida ser interessante. Ns temos seguradoras interessadas no tema, ns temos vindo a enviar informaes sobre o que a atividade, os nmeros que ela envolve, os riscos, etc. H interesse da parte das seguradoras. um processo algo lento porque sempre que se pega num assunto novo, numa seguradora que no tenha especialistas dentro do setor, tm que estudar o mesmo, o que faz com que no seja possvel acontecer de um dia para o outro. De qualquer forma, temos esperana, pois partida parece um produto interessante, como todos os outros que existem no mercado, e temos esperana que as seguradoras venham a desenvolver um seguro neste sentido. AG: Acredita que agora pode ser o ponto de reviravolta/rejuvenescimento do setor? AS: Algum desenvolvimento vai ter e j est a ter, por vrias razes: pelo preo do barril do petrleo, que tem influncia. A partir do momento em que ocorreu a guerra do golfo e com tudo o que se seguiu, que acabou por levar estabilizao em alta do preo do petrleo. O petrleo tem alguns derivados que so concorrentes dos derivados da resina e portanto, enquanto o preo deste combustvel se mantiver nestes nveis, partida o valor da resina no estar em baixa. Um outro fator muito importante cada vez mais a tendncia dos consumidores por produtos renovveis e naturais: a resina um desses produtos. No tem nada de artificial na extrao da resina e um produto renovvel. O pinheiro continua a crescer e a produzir resina. Portanto, um produto que, se no for explorado, ele continua no pinheiro, mas sem qualquer rendimento, se o explorarmos, estamos a tirar um rendimento, para alm do pinheiro produzir mais resina quando ele resinado. portanto um produto renovvel, sustentvel e que permite o desenvolvimento rural e a criao de emprego. E isso o tipo de produtos que, felizmente, o mundo globalizado tem vindo a valorizar. Nesta perspetiva, tenho esperana que a resina venha a ser desenvolvida. Ns, em termos de pas, no tempos qualquer aposta no setor da resina. Pura e simplesmente no existe, um setor apenas ignorado. E mesmo agora quando se tem vindo a falar nestes ltimos 2 ou 3 anos um pouco mais do setor, os nossos rgos de deciso continuam a ignor-lo, mas penso que os operadores, por eles prprios, venham a ter alguma perspetiva de crescimento, por vrias razes, algumas delas por ms razes, que a falta de emprego no mundo rural. AG: V esse fator como uma oportunidade? AS: Ns temos tido valores de desemprego muito altos no mundo rural, o que leva existncia hoje em dia de pessoas disponveis para trabalhar. Contrariamente quilo que a maioria das pessoas pensa, que a atividade da resina muito dura e desagradvel, ns, nas pessoas da empresa (GIFF) que enviamos para irem trabalhar para a resina, tm vontade de ficar a trabalhar na resinagem: no tm que cumprir horrios, tm que cumprir objetivos, fazem-no como quiserem; trabalham dentro de reas florestais e como tal tm uma atividade com a natureza, s vezes chove e outras vezes est demasiado sol, mas uma atividade ao ar livre e portanto uma atividade muito mais agradvel do que muitas atividades que os atuais resineiros que esto a trabalhar connosco j tiveram noutros tempos. Portanto, por a h tambm alguma esperana. O nosso Estado no tem apostado nada na resina nem na gesto florestal e, consequentemente, temos algumas reas que so geridas pelo Estado e que no tm uma gesto adequada e no produzem a resina que poderiam produzir mas, em todo o caso, temos alguma possibilidade de crescimento, e temos uma indstria que precisa da nossa resina. Ns produzimos neste momento menos de 10% da resina necessria para a indstria portuguesa, e portanto esta vai comprar a matria-prima fora do pas. AG: E onde que ns podemos vir a ser competitivos com pases como o Brasil e a China, que tm apostado na resina e no seu desenvolvimento e investigao? AS: Sobretudo melhorar geneticamente as espcies para elas produzirem mais resina, mas esses pases tambm esto a fazer um esforo muito grande em se industrializar e, se eles agora exportam matria-prima, a perspetiva de futuro desses pases no de exportar a matria-prima resina: a de exportar produtos derivados da resina. A nossa indstria (europeia), j sente algumas dificuldades, e parece vir a sentir cada vez mais, no abastecimento. E, se no for possvel comprar resina, a indstria deixa simplesmente de existir. A resina transformada em dois processos. H uma primeira fase de destilao, onde limpa e separada em dois produtos, a aguarrs e pez (ou colofnia). E depois esse pez d origem a dezenas de derivados j numa indstria de segunda transformao. E ns temos das indstrias de 2 transformao mais fortes a nvel mundial ainda hoje. Da a nossa expectativa e esperana que, por um lado, saber que existe disponibilidade de mo-de-obra no mundo rural e por outro, a nossa indstria precisar cada vez mais, pensamos ns, da resina que c produzida. AG: H portanto uma oportunidade bem identificada AS: E j temos um exemplo. Tem vindo a aumentar a produo em Portugal, ela aumentou cerca de 10% nos ltimos 2 anos, mas temos a nossa vizinha Espanha, sobretudo na regio de Castilha Leo, que apostou significativamente na resina, nunca deixando morrer a atividade, e a produo de resina espanhola naquela regio triplicou nos ltimos 4 anos. Onde as coisas esto mais estruturadas o crescimento tem sido exponencial. Aqui mais lento devido essencialmente falta de apoios e organizao. AG. Quais as grandes limitaes que encontra? AS: Algumas. A falta de gesto de muitas reas de pinhal. Isso tem repercusses na produtividade e na produo de resina. Se ns tivermos muitas rvores por hectare e poucas rvores, de entre essas muitas, que possam ser resinadas, elas produzem pouca resina porque esto sob stresse, por terem demasiadas rvores por unidade de superfcie. uma questo de densidade. Se ns tivermos 400 rvores por hectare e as 400 forem resinadas, ns temos uma determinada produo de resina por ano, se tivermos as mesmas 400 rvores resinveis, mas se tivermos 1000 rvores no mesmo espao, existem 600 que no esto a ser resinadas, mas todas elas esto em competio umas com as outras pelos nutrientes e, portanto, esses povoamentos produzem logo menos resina do que se tivssemos apenas aquelas 400 nesse espao. A falta de gesto tambm tem implicaes graves no risco de incndio e, como em Portugal quando arde nunca responsabilidade de ningum, normalmente o resineiro se l estiver, o que paga mais, porque fica sem tudo o que l tinha. AG: Falou que a produo representa apenas 10% da necessidade de consumo no nosso pas, portanto nem sequer se coloca para j a porta da exportao. possvel conseguirmos preencher a necessidade de consumo interno? AS: No o conseguiremos. Os melhores povoamentos de pinheiro bravo perderam-se neste pas com os incndios dos ltimos anos. Ainda temos o Pinhal de Leiria que tem, de facto, uma boa gesto e com pinheiros de boas dimenses. Do resto uma grande maioria perdeu-se. Ns perdemos cerca de 500.000 hectares de pinheiro bravo nos ltimos 40 anos. Apesar de termos feitos muitos investimentos para proteger, plantar, etc, perdemos quase meio milho de hectares, o que significa uma perda volta de 30% da rea de pinhal nestes ltimos 40 anos. E perdemos os melhores povoamentos. E portanto, nem que resinssemos todo o potencial que existe neste momento de pinheiro bravo no nosso pas, j no conseguiramos abastecer a indstria nacional. AG: Ento o objetivo passa por atingir que metas? AS: Atingir os 20, 25% do abastecimento da indstria nacional. AG: Em quantos anos? AS: Em 4 ou 5 anos seria possvel. AG: Ento um objetivo bastante positivo...Ser no mnimo dobrar a capacidade produtiva AS: Sim, mas a resina das poucas atividades neste momento de que se fala no setor primrio que se est a desenvolver que no tem qualquer apoio. Para conseguirmos uma meta destas teria que existir algum apoio ao setor, seno levar-nos- muito mais tempo. AG: Partindo do princpio que se gerar apoios para a consecuo dos objetivos no espao temporal entre 4 e 5 anos, qual o limite na nossa capacidade produtiva? Com os 20% j atingimos o nosso limite ou possvel atingir posteriormente uma meta mais elevada? AS: Depende. Neste momento, a legislao que existe, que de 1957 e est completamente desatualizada (mas a que existe, e temos que nos reger por ela), as multas so extremamente pesadas. Podemos at consider-las como um roubo. Devido ao desfasamento da realidade e analisando aquilo que se pode ganhar com o custo que poder originar uma infrao. Na legislao atual, s podemos resinar rvores com um dimetro de resinagem superior a 25 cm. Se ns tivermos uma boa gesto das reas de pinhal daqui para a frente, e se tivermos cada vez menos incndios, teremos cada vez mais povoamentos que neste momento no tm dimenso a entrar na fase que j podem ser explorados para esta atividade e, assim, o aumento de produo pode ser gradual. Isto ser possvel apenas se invertermos o ciclo, que tem sido de perda de reas em vez de ganhos. Algo que difcil de acontecer AG: Portugal j foi um dos principais produtores de resina mundiais AS: Foi o 3 maior produtor a nvel mundial nos anos 80. Produziu cerca de 140.000 toneladas de resina num ano. Ns nem que quisssemos, hoje nunca conseguiramos produzir 140.000 toneladas de resina: no temos pinhais para isso. E isto mudou em 30 anos AG. Ou seja, o grande problema no foi o aumento da concorrncia externa, mas sim a deteriorao da capacidade portuguesa. AS: Atribumos sempre competio da China e etc. os problemas, o que em parte verdade, porque a dada altura os preos da resina baixaram bastante, e isto teve uma importncia muito grande mas, nem que ns quisssemos acompanhar, no conseguiramos, pois fomos perdendo matria-prima ao longo dos anos. AG: Nesse sentido, e relativamente aos incndios florestais, de que forma o setor da resinagem pode contribuir para a preveno/combate aos fogos florestais? AS: A grande vantagem est nos efeitos indiretos na atividade de uma empresa de resinagem, por isso que na empresa que represento fomos para a resinagem. Este pas tem investido, de facto, alguma coisa em preveno e, em combate, muita coisa, e no tem conseguido resolver os problemas f lorestais, bem pelo contrrio. Comemos a investir significativamente a partir da dcada de 2000 e os piores incndios que tivemos foram a partir desse ano. Estamos com uma progresso direta entre custo e prejuzo. Cada vez se investe mais e cada vez temos mais reas de valores interessantes completamente destrudas. O que que a resina pode aqui fazer? Pode ser uma preveno produtiva. A maior parte das aes preventivas de gesto de combustveis que temos so um investimento diferido no tempo, e sem retorno financeiro. Investimos para proteger. O incndio pode ou no ocorrer. Ns com a resinagem pretendemos ter pessoas para fazer vigilncia, que no so pagas para o fazer, andam a resinar e, com esta atividade, fazem vigilncia, pelo menos as horas que l esto. A prpria atividade dessas pessoas, pelo pisoteio, pelas visitas mesma rvore de forma peridica, j faz alguma gesto de combustveis e ns, no nosso caso particular, damos formao de 1 interveno a incndios aos resineiros. Damos alguma formao s equipas de resineiros que temos, para que possam tentar apagar o incndio o mais rpido possvel, ou como comunicar prontamente s autoridades competentes. Eles esto a fazer uma atividade produtiva em que se espera algum retorno financeiro, quer para o proprietrio dos pinhais quer para quem est a fazer a explorao e, acima de tudo, para os prprios resineiros que esto a exercer uma atividade remunerada e simultaneamente podem contribuir para ajudar a resolver o problema dos incndios florestais. esta a perspetiva que se pretende. AG: Ou seja, aproveitar o potencial econmico da atividade e us-la em favor da preveno AS: Exatamente. Um contributo para a sociedade em geral. Da considerarmos que seria da maior justia existir um apoio para a resinagem at porque o pas gasta imenso dinheiro na preveno e de forma inconsequente. Ao apoiar na resinagem o governo est a potenciar uma atividade produtiva, que tem valor acrescentado e utilizada e transformada na indstria nacional. Outro aspeto interessante da resina que praticamente todos os derivados da resina so exportados. Fala-se muito no aumento das exportaes do pas, mas o aumento das exportaes no pas tem sido muitas vezes custa de produtos derivados do petrleo. Mas ns para exportarmos derivados de petrleo temos que adquirir primeiro, porque no somos produtores desta matria-prima. No caso da resina, isso no acontece, ns exportamos derivados de resina, se conseguirmos que isso seja feito cada vez mais com resina produzida c, o processo integralmente interno. AG: Existe alguma estratgia comunicacional para esta preveno? AS: Sim, j tivemos uma audincia na Secretaria de Estado, temos tambm apostado nos meios de comunicao social. Mas temo-nos deparado com alguma resistncia e tambm descrdito por parte dos rgos competentes, que vm a resina como uma atividade do passado e no de futuro, e tem sido difcil mudar essa mentalidade. AG: E na Europa? AS: Temos, por exemplo, o caso da vizinha Espanha, onde existem nas reas resinadas contratos-programa, em que as outras atividades de mbito florestal que tm que ser realizadas, como por exemplo o arranjo dos caminhos, o desbaste, e outras atividades de silvicultura, so adjudicadas s equipas de resineiros que trabalham nessas reas, e isso fecha o ciclo: os resineiros fazem tambm parte da gesto, em vez de trabalharem 6-9 meses por ano trabalham o ano todo. No artificial, onde necessrio obter subsdios. E isso que estamos a tentar fazer aqui tambm, s que a comear pela base. AG: E relativamente aos produtos exportados? AS: Ns no exportamos resina, exportamos produtos derivados da resina. Praticamente 100%. Os derivados da resina so usados em vrios produtos, desde chiclets a endurecedores de pneus e perfumaria, que s se produzem l fora, ns aqui transformamos e vendemos a essas empresas. AG: Que futuro prev para a atividade? AS: Penso que, para haver um crescimento gradual do setor, existem dois pilares fundamentais: reunirmos as condies para uma gesto florestal eficiente, que permita ter uma preveno eficiente e a existncia de seguros que protejam os resineiros. A sobrevivncia desta fileira em Portugal desde os finais da dcada de 80 deveu-se sobretudo resilincia e viso estratgica de algumas empresas do setor que, apesar da grande quebra de produo nacional, conseguiram se reposicionar e manterem a competitividade no mercado mundial. Para Adriana Monteiro, Scia Maioritria da Resal, a grande dificuldade desta atividade a falta de matria prima, dado Portugal ter abandonado muito a resinagem nos ltimos anos, juntando o facto de a importao tambm no ser fcil, afirmando que os pases maioritariamente exportadores, como o Brasil e a China, no esto neste momento a exportar, devido necessidade de abastecerem os respetivos mercados internos. Manuel Barbeiro Costa, presidente do grupo Respol, relembra o facto de, na altura em que se iniciou nesta atividade, existirem mais de 40 fbricas de resina. Hoje, restam trs ou quatro. Para o presidente daquele grupo, esta situao deve-se ao custo de mo-de-obra e com a prpria maneira de produzir, que se alterou. Mas, no seu entender, a maior dificuldade que o setor enfrenta a concorrncia da China que por vezes pratica preos muito elevados, outras vezes muito baratos. preciso estar sempre tona da gua para sobreviver. Adriana Monteiro concorda, afirmando que a perda de fora da resinagem em Portugal foi mais notria com o aparecimento da produo em grande escala por pases como a China e Brasil. A falta de recursos humanos para a resinagem era tambm um constrangimento, mas ambos os empresrios mencionam que, nos ltimos anos, tem aparecido mais gente com interesse em trabalhar no setor. Um outro aspeto que rene consenso por parte dos responsveis destas empresas a falta de uma poltica de gesto dos pinhais. Por um lado, o grande nmero de proprietrios dos terrenos com pinhais em Portugal, que algumas vezes esto disponveis para arrendar os pinhais e noutras no, o que gera um clima de incerteza e instabilidade. Por outro lado, reforam a ideia da ResiPinus, e apontam o dedo gesto ineficiente das Matas Nacionais por parte do Estado, que no tem uma poltica de aluguer dos pinhais e v o resineiro como inimigo, quando o madeireiro quem corta a rvore. A aposta em tecnologia e inovao considerado um fator chave para a sobrevivncia e sucesso nestas empresas. No caso da Respol, o grupo j investiu 5 milhes de euros nos ltimos 10 anos em tecnologia e, para contornar o facto de Portugal se encontrar numa zona geograficamente perifrica, a empresa adquiriu, recentemente, uma fbrica na Finlndia, para levar algumas das resinas que so produzidas c para aquele pas, valorizando o nosso produto e ultrapassando a questo dos transportes, que nos saem muito caros. O contributo para a preveno contra incndios e gesto florestal que a atividade da resinagem traz no esquecida pelos empresrios. Adriana Monteiro afirma que alm de gerar postos de trabalho e ajudar na economia nacional, tambm importante a nvel ambiental, pois ajuda a manter as florestas limpas. A prpria atividade laboral tem maior incidncia no vero, o que contribui para uma forte vigilncia nas alturas de maior risco deste tipo de flagelos ocorrer. Manuel Costa acrescenta ainda que a necessidade de visitar frequentemente (de 20 em 20 dias) cada rvore para extrair a resina, tambm o que torna a mo-de-obra onerosa. Apesar dos constrangimentos, os empresrios vm o futuro com confiana, acreditando que o setor ter um crescimento gradual pois, se o setor crescer, todos ganham. Veem como os seus maiores concorrentes os incndios e o petrleo. Para o resineiro, esta uma atividade sazonal, que varia entre 6 a 9 meses, desenvolvida integralmente nos espaos florestais. O profissional desta atividade faz a limpeza de uma parte da casca do pinheiro para poder resinar e, posteriormente, com uma frequncia regular (entre duas a quatro semanas), visita o mesmo pinheiro este o termo usado para renovar, para abrir mais uma fiada e para aplicar uma pasta para promover a produo de resina. Rui Duarte um desses resineiros, comeou a trabalhar nesta rea desde os 11 anos de idade, por intermdio do seu pai, que tambm era resineiro. empresrio em nome individual e exerce atividade na zona de Boticas, contando com mais cinco colaboradores nas alturas de maior intensidade laboral. O seu papel na cadeia de valor desta fileira concentra-se na extrao da resina das rvores, armazenando-a dentro de recipientes e vendendo posteriormente para as fbricas que a transformam. Atualmente, vende maioritariamente para empresas de Albergaria e Leiria. AG: Como caracteriza o exerccio desta atividade? Quais as principais dificuldades e oportunidades que encontra? Rui Duarte: uma atividade que necessita de alguns conhecimentos tcnicos, como por exemplo a desencarrasca uma das tcnicas utilizadas para a primeira etapa de preparao do pinheiro para posterior extrao da resina implica algum desgaste fsico, pois so oito horas dirias a caminhar por montes, muitas das vezes ngremes. Uma das principais dificuldades com que me debato todos os anos nos meses de vero, devido ao flagelo dos incndios, que tm atingido a regio onde me encontro, no havendo qualquer tipo de apoio, seja econmico ou social, nem investimento na renovao das reas ardidas. AG: No mencionou oportunidades RD: Porque, sinceramente, no me parecem existir. A continuar assim, uma profisso em vias de extino. AG: Portugal j foi um dos principais produtores mundiais de resina, mas veio a perder essa liderana. Na sua opinio, qual o fator determinante para isto ter acontecido? RD: A extino do pinheiro bravo, quer por cortes, quer por incndios, e a falta de replantao deste e tambm a falta de mo-de-obra disponvel. AG: O que dever ser feito para contrariar esta situao? RD: Maior apoio por parte das instituies governamentais, pois atualmente esta atividade completamente esquecida. Existem apoios para a agricultura, pessoas individuais ou empresas, mas para quem investe na extrao da resina nenhum apoio facultado, mesmo quando existe um grande prejuzo, como por exemplo os incndios, onde por vezes se perde uma vida de trabalho. AG: Que conselhos d a quem pensa iniciar-se nesta atividade? RD: Ponderar bem os prs e os contras, pois uma atividade que no deve ser encarada como uma atividade fcil, pois existem algumas condicionantes, mesmo em termos de legislao.